O isolamento social forçado pela pandemia de Covid-19 tem feito com que as pessoas repensem suas casas, como afirmou recentemente Gabriel Braga, CEO do QuintoAndar. E de acordo com arquitetos ouvidos pelo jornal Folha de São Paulo, as mudanças trazidas pela quarentena, em especial a adoção massiva do home office, já apontam tendências que colocam a casa no centro das atenções após a pandemia.

Para os arquitetos entrevistados pela Folha, a tendência nas metrópoles de se construir apartamentos cada vez menores caiu por terra com a pandemia. E além do home office, outras transformações vieram pra ficar, o que deverá mudar a cara das residências, na previsão dos especialistas.

Mais verde e mais espaço

Levantamentos feitos durante a quarentena pelo QuintoAndar mostraram que os moradores de São Paulo, Brasília e da Região Metropolitana do Rio de Janeiro têm buscado cada vez mais por espaços maiores e casas. 

E essa procura por ambientes mais arejados favorece imóveis antigos, segundo a arquiteta Teresa Mascaro declarou à Folha. Com ambientes mais arejados, que costumam ter janelas maiores e mais espaço pra plantas, por exemplo.

Home offices

Principal mudança estrutural e comportamental na vida das pessoas durante a quarentena, o home office já deve ser contemplado em entregas de em novos empreendimentos residenciais.

“Quando não há área disponível, uma opção é a volta de escrivaninhas nos quartos, prática comum nos anos 1990. Em dormitórios pequenos, é possível fazer esse móvel em uma versão retrátil”, disse à Folha a arquiteta Mila Strauss, da MM18.

Além disso, de acordo com Strauss, pros espaços de coworking que já são uma tendência em áreas comuns de condomínios, os chamados “phone booths” devem ganhar força.

“É uma espécie de casinha reservada, para evitar a proximidade física entre os moradores. A divisória pode ser feita nos corredores dos prédios”, previu a arquiteta.

Área de descontaminação

Outra tendência trazida pelo coronavírus é a necessidade de um espaço na entrada da residência pra que sejam deixados sapatos, roupas e itens trazidos da rua, como compras. Um hábito muito tradicional no Japão, por exemplo, onde o hall é usado para deixar os calçados, como lembra a arquiteta Fernanda Rubatino.

Segundo Mila Strauss, incluir esse tipo de local reservado pros calçados do lado de fora dos apartamentos, já no projeto dos edifícios, é algo totalmente possível.

Sapatos na entrada

Limpeza facilitada

Especialista na área de hospitalidade e em planejamento de cidades inteligentes, o arquiteto Eduardo Manzano também foi ouvido pela Folha. Segundo ele, materiais porosos devem ser evitados nas novas construções, por conta da dificuldade de higienização.

“Pedras e madeiras rústicas devem cair em desuso. Já granitos, porcelanatos e rejuntes de epóxi podem se tornar escolhas mais frequentes”, afirmou Manzano.

No entanto, segundo Teresa Mascaro, isso não significa que casas serão completamente revestidas em porcelanato. 

“Espera-se que a indústria desenvolva uma gama maior de produtos pra higienização”, previu Tereza.

Cozinhas ganham mais importância

Além mais pessoas cozinhando durante a pandemia, o hábito de se estocar mais mantimentos foi amplamente disseminado durante a quarentena. E os dois fatores têm forte impacto na forma as cozinhas serão encaradas dentro de um imóvel. O cômodo ganhou ainda mais importância do que já tinha.

“Não adianta fazer uma cozinha com um metro e vinte de largura”, afirmou Teresa Mascaro. “O ambiente ganha outra função: a de armazenar compras. Para quem não tem despensa, a ideia é usar armários altos para estoque de não perecíveis, completou Mila Strauss.

Bicicletas em alta após a pandemia

O risco de contágio no transporte público fez com que as bicicletas ficassem cada vez mais em alta. De acordo com a Folha, em países como a França, inclusive, o relaxamento da quarentena veio com políticas pra impulsionar o uso das bikes. Com isso, ganchos pra pendurar as bicicletas em casa ganham importância. E os condomínios deverão investir em mais espaço pra que seus moradores possam guardá-las.

Segundo revelou à Folha, Mila Strauss pretende criar, em seus projetos de prédios, ambientes com tomadas pra bikes elétricas e armários de ferramentas básicas.