Quando se projeta e se decora um ambiente, o objetivo principal sempre costuma ser deixá-lo bonito aos olhos de quem vê. Mas agradar apenas aos olhos não é suficiente. Especialmente em uma residência, onde as pessoas passam muito tempo interagindo com a casa. É preciso saciar os outros sentidos, visando o conforto, o aconchego, a funcionalidade e, no final das contas, atingir uma maior qualidade de vida no seu lar. E o design sensorial é uma das formas de atingir esse objetivo.

Neste artigo, trazemos inspirações para você deixar os sentidos aguçados com a decoração da sua casa.

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O que é o design sensorial

O design sensorial, seja em projetos arquitetônicos ou na decoração de interiores, tem como objetivo estimular e satisfazer sentidos do ser humano, por meio de diversos recursos que podem ser aplicados no ambiente. 

Mas isso não significa, necessariamente, se resumir e pensar naqueles clássicos cinco sentidos que aprendemos na escola quando crianças:  visão, tato, olfato, audição e paladar. Pois há outros níveis de percepções sensoriais ainda mais complexas que podem ser atingidas por recursos de arquitetura e design.

Para entender um pouco melhor sobre o assunto, conversamos com a arquiteta Juliana Neves. Ela é fundadora da Kube Arquitetura, um escritório carioca especializado em projetos de lojas para algumas das maiores marcas de varejo do Brasil. 

E você pode estar se perguntando: “mas o que isso tem a ver com a decoração de residências”? Pois o escritório de Juliana não promete a seus clientes um projeto de loja, mas sim da “casa da marca”. E mexer com os sentidos é um dos segredos dos projetos dela, que é autora do livro “Arquitetura sensorial” e é uma das autoridades do Brasil no assunto.

Juliana Neves

Fundadora e arquiteta titular da Kube Arquitetura

“Eu entendo a arquitetura como uma forma de design. E entendo o design como o ato de projetar. Quando se fala em design de sobrancelhas, por exemplo, não sei se dá para chamar assim, pois não tem projeto. É apenas execução. Design é pensar no que você quer transmitir, o que você quer que o usuário sinta”.

Arquitetura sensorial como ferramenta de vendas

Juliana trabalha com interiores desde o início da faculdade de arquitetura. Mas logo que se formou, foi trabalhar com interiores comerciais. Segundo ela, são “mais criativos e dão mais possibilidades de você ousar”, em especial com o objetivo de fazer com que a marca em questão venda mais em sua loja, enquanto o residencial prima mais pelo belo.

Juliana Neves

Fundadora e arquiteta titular da Kube Arquitetura

“Desde que eu fui para o comercial, percebi que romper com o entorno é uma ferramenta de venda também. Atendemos várias marcas de varejo brasileiras que precisam se posicionar no mercado. E a loja é a casa uma marca. Entrei na arquitetura sensorial com o desejo de fazer o meu cliente vender mais. De impactar emocionalmente e, consequentemente, aumentar as vendas e engajar. Se você pensar numa casa, ela comunica muito do que é uma família, por exemplo”.

Nem todos os sentidos

De acordo com Juliana, ao projetar e também ao decorar um ambiente, a pessoa profissional de arquitetura tem que pensar no impacto que aquele local irá causar em quem entrar. E mexer com os sentidos não significa aguçar aqueles cinco que aprendemos na escola: visão, audição, tato, olfato e paladar. 

Juliana Neves

Fundadora e arquiteta titular da Kube Arquitetura

“Se a gente pensa na tridimensionalidade de um ambiente como um objeto que vai impactar, temos que pensar em quais sentidos serão impactados. E quando pensamos no impacto que o design sensorial pode ter nas pessoas, o paladar não faz sentido algum, uma vez que ele é impactado em um ambiente pelo olfato. A gente aprende sobre os cinco sentidos na escola. Mas para a percepção de um ambiente, esses não são os mais relevantes. Existem outros, como equilíbrio, norteamento espacial e diversas outras abordagens sensoriais”.

Sentidos na arquitetura sensorial

Após três anos de pesquisas e estudos para escrever o livro “Arquitetura sensorial”, Juliana optou por uma abordagem em cinco sistemas de sentidos:

  • Visão
  • Audição
  • Olfato
  • Sistema háptico
  • Sistema básico de orientação

Mais abaixo, vamos destrinchar cada um desses sistemas de acordo com as explicações da arquiteta.

Visão

Em termos de decoração, o mais óbvio dos cinco sentidos, para qualquer pessoa que não seja especialista no assunto, é a visão. E acaba sendo o mais óbvio porque, de fato, é o sentido mais provocado e explorado quando se planeja uma decoração de interiores. 

Juliana Neves

Fundadora e arquiteta titular da Kube Arquitetura

“É sempre importante falar em se projetar sombras. Eu gosto de desenhar a sombra que a luminária vai projetar e não necessariamente o objeto. É ela que vai emocionar, assim como a temperatura da luz. O ambiente e as sombras mudam por meio da cor da luz ao longo do dia. Projetar atmosfera deveria ser o objetivo central do arquiteto. E não a caixa em si. Portanto, para instigar a visão eu estou mais preocupada com luz e sombra e não de projetar o belo. Projetar o belo é obrigação e sobrevivência de qualquer escritório”.

A forma como o ambiente está iluminado também é algo que mexe muito com o sentido da visão. Afinal, se levarmos em consideração, por exemplo, que antes da invenção da eletricidade ou mesmo da descoberta do fogo, o ser humano em sua essência sempre lidou com a luz natural, não é difícil de pensar que essa é a forma que traz a maior sensação de bem-estar.

Foto que ilustra matéria sobre design sensorial mostra uma mulher sentada na beira de uma cama co uma xícara de café em um quarto com uma grande parede de vidro que dá para uma varanda e uma grande área verde.
Amplas janelas, que privilegiam a entrada da luz do sol, dão uma sensação maior de bem-estar (Foto: Shutterstock)

E no que diz respeito à iluminação artificial, sempre existe a dúvida sobre o que é melhor: luz fria ou quente.

Veja mais as características de cada uma delas: 

Luz quente 

São mais amareladas e usadas quando a intenção é proporcionar mais conforto e relaxamento ao ambiente, com menos foco na claridade. Veja mais algumas características da luz quente:

  • Dá um ar mais sofisticado e elegante ao ambiente;
  • Consegue manter as cores do espaço mais naturais e realistas;
  • Proporciona mais conforto visual.
Foto que ilustra matéria sobre design sensorial mostra um display com duas linhas de lâmpadas em sequência acesas. Acima, as quentes (amarelas) e abaixo as frias (brancas)
Acima, a luz quente. Abaixo, a luz fria (Foto: Shutterstock)
Luz fria

Brancas e quase azuladas, as luzes frias são mais usadas em ambientes que necessitam de uma maior luminosidade. Elas têm como características:

  • Reduz desvio de atenção e sonolência;
  • Traz um ar mais moderno e tecnológico;
  • Consegue dar destaque para itens de decoração;
  • Evidencia os contrastes no ambiente.
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Audição

A audição é um sentido que você pode trabalhar no design sensorial de um ambiente antes mesmo de ele existir. Suponha, por exemplo, que você está procurando um imóvel para morar. E em um mesmo prédio você tem a opção de um apartamento de frente para a rua e outro de fundos, que dá para uma mata. Você escolheria aquele onde vai ouvir barulhos de carros ou a opção que traz o som de pássaros pela manhã?

É claro que o som externo influencia. Por isso a pergunta provocativa acima. Mas vamos falar de opções sonoras que você pode incluir em sua decoração:

Sino dos ventos

Ótimo para quem tem um ambiente arejado. Há diversos modelos, feitos com bambus, metais e, até mesmo, pedras. Procure evitar aqueles muito estridentes e altos, pois o objetivo de um sino dos ventos é passar sensações de harmonia e tranquilidade por meio dos sons que emitem.

Fontes de água 

Especialmente em espaços de meditação, as fontes de água são bem populares e trazem a sensação de que um rio está passando a uma distância não muito grande. Mais do que simples elementos decorativos, elas provocam não apenas um efeito calmante, por conta do som da água corrente, além de uma sensação de se estar perto da natureza, mas uma outra sensação explicada pela arquiteta: 

Juliana Neves

Fundadora e arquiteta titular da Kube Arquitetura

“No sentido da audição, temos algumas pistas sensoriais que o espaço nos dá. Se existe um som de uma água rolando, por exemplo, instintivamente você já vai sentir uma sensação de frescor. A gente, inconscientemente, já pensa em algo mais fresco”.

Olfato

O olfato é aquele sentido que, às vezes sem que a gente nem perceba, pode nos levar a uma memória remota da infância, pelo simples fato de se sentir um cheiro familiar. E, em alguns casos, ele pode também aguçar o paladar, apesar de não necessariamente satisfazê-lo.

Juliana Neves cita um exemplo de como esse sentido pode ser impactado:

Juliana Neves

Fundadora e arquiteta titular da Kube Arquitetura

“Esse é um truque bem conhecido: na hora que você for vender um apartamento, por exemplo, vale a pena assar um bolo e deixar o cheiro no ambiente. Isso emociona. Engaja emocionalmente”.

Porém, para percepção de um espaço físico, se você está com o nariz congestionado, por exemplo, o olfato não será impactado. E muito menos haverá qualquer impacto no paladar, como ressalta Juliana, pois até mesmo o gosto de uma comida, por exemplo, fica menos perceptível se o olfato não está 100%.

Juliana Neves

Fundadora e arquiteta titular da Kube Arquitetura

“Colocar um difusor de lavanda no ambiente pode ser agradável. Mas isso, não é, necessariamente, um design sensorial. Isso não é fazer design. Uma vez eu fui medir uma loja. Cheguei às dez horas da manhã e ela estava fechada desde a noite anterior. Quando entrei, o cheiro da loja era horrível, porque a madeira escolhida tinha um cheiro muito ruim. Ou seja, a escolha da madeira é arquitetura sensorial e pode impactar no olfato”.

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Sistema háptico

Aqui, Juliana explica este sistema que engloba um daqueles cinco sentidos que aprendemos na escola: o tato. Ou seja, literalmente, o que a gente sente na pele. 

Mas ele não se resume a isso e está dividido em três subsistemas:

Cinestesia

É o movimento da musculatura do seu corpo para se adaptar ao ambiente. Atenção: é diferente da sinestesia, que começa com a letra “s”, que é uma espécie de cruzamento de percepções sensoriais, como uma pessoa que ouve uma música e vê cores, por exemplo.

Juliana Neves

Fundadora e arquiteta titular da Kube Arquitetura

“Um exemplo de cinestesia é quando você sobe uma ladeira. Mesmo de olho fechado, você percebe que está subindo. Seu corpo percebe. Eu gosto muito também, por exemplo, da ideia de ‘apertar’ uma pessoa em um ambiente pequeno para depois abrir. A ideia por trás da arquitetura das igrejas medievais tem a ver com isso. As pessoas passavam por um átrio apertado e depois entravam em um suntuoso salão, onde viam a grandiosidade de Deus”.

Toque

Dentro do sistema háptico, é o toque ativo. O ato de pegar alguma coisa. E, com isso sentir texturas e formas

Toque passivo

É tudo aquilo que é sentido e percebido pela pele.

Juliana Neves

Fundadora e arquiteta titular da Kube Arquitetura

“Por exemplo, uma forma de projetar um ambiente com o objetivo de causar um arrepio nas pessoas é aumentar a umidade e baixar a temperatura. É impressionante pensar que eu posso projetar para arrepiar”.

Foto que ilustra matéria sobre design sensorial mostra uma mulher sentada em um sofá apontando um controle remoto para um aparelho de ar condicionado na parede atrás dela.
A temperatura de um ambiente tem papel fundamental no sentido do toque passivo (Foto: Shutteerstock)

E para causar uma sensação de bem-estar em quem mora ou frequenta uma casa, é importante levar em consideração, por exemplo, o clima da região. Ter um sofá de couro ou de veludo em um lugar onde o verão registra temperaturas que passam dos 40º C, como o Rio de Janeiro, por exemplo, não é uma boa ideia. 

Portanto, o mobiliário tem que ser pensado para oferecer conforto ao toque. Um tapete felpudo, por exemplo, mesmo em regiões mais quentes, é ótimo para quem gosta de andar com os pés descalços pela casa. Assim como qualquer outro material que, ao termos contato, passe a sensação de maciez.

Foto que ilustra matéria sobre design sensorial mostra os pés de um bebê em destaque sobe um tapete felpudo.
Descobrindo sensações desde a mais tenra idade (Foto: Shutterstock)

Em relação à temperatura, ambientar a sala com ar condicionado em dias mais quentes passa uma grande sensação de conforto. Da mesma forma que em regiões mais frias é possível, dentro de um projeto arquitetônico, ter o chão aquecido por calefação, o que ajuda a passar uma sensação de conforto e aconchego dentro de casa. 

Sistema básico de orientação

De acordo com Juliana, o Sistema básico de orientação é responsável pela nossa postura vertical, pela sensação de espaço e pelo equilíbrio. 

Segundo a arquiteta, há diversos recursos que podem mexer com esse sentido, como prever um piso um pouco mais irregular em uma área externa antes de chegar em um belo jardim, por exemplo. Dessa forma, a pessoa se força a olhar para baixo, para ver onde está pisando, tem sua atenção aguçada e, na sequência, tem o sentido da visão impactado pela vista planejada. 

Outro recurso é tirar o centro de gravidade, por exemplo.

Juliana Neves

Fundadora e arquiteta titular da Kube Arquitetura

“Existe uma tipo de cadeira chamada spun chair, que parece um peão. Ela te dá um frio na barriga quando você senta”.

Foto que ilustra matéria sobre design sensorial mostra uma cadeira em forma de pião.
Acredite: isso é uma cadeira. A chamada spun chair, citada pela arquiteta Juliana Neves (Foto: Shutterstock)

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